Revolução no país das microbiotas! Após a microbiota intestinal, vaginal, respiratória e a cutânea… uma nova descoberta, com surpresa geral, até dos pesquisadores: a microbiota urinária.
Achava-se que a urina era estéril: mas não! de facto contém, mesmo numa pessoa em boa saúde, bactérias com um papel protector a nível da bexiga. É o que acontece a nível vaginal ou intestinal onde algumas bactérias têm um papel protector inibindo o crescimento ou a adesão de indesejáveis.
À descoberta da microbiota urinária
Ainda há pouco tempo, só se podia analizar o « conteúdo » bacteriano da urina em cultura… porque eram incapazes de detetar as bactérias não cultiváveis (com necessidades específicas, ou presentes em pouca quantidade).
São as tecnologias de ponta da biologia molecular que permitiram evidenciar a presença microbiana no seio da urina, detectando as sequências genéticas. O primeiro estudo é de 2012 e desde 2014 muitas publicações « apuraram » estes resultados.
A sua composição
Estima-se que a diversidade da microbiota urinária é comparável à diversidade da microbiota vaginal. São maioritariamente lactobacilos (cerca de 50%). Mas também bifidobactérias (cerca de 12%) e bactérias potencialmente patogénias como Escherichia coli (cerca de 2%).
disbiose
Siddiqui H et al. Assessing diversity of the female urine microbiota by high throughput sequencing of 16S rDNA amplicons. BMC Microbiol. 2011 Nov 2;11:244.
Um papel protector?
Como na microbiota intestinal, a microbiota urinária pode ter um papel importante no equilíbrio do trato urinário*:
Com produção de compostos antimicrobianos;
Com competência entre as bactérias patogénias para os recursos "alimentares";
Com ativação do sistema imunitário local e geral;
Com manutenção da impermeabilidade das mucosas;
Com degradação de compostos tóxicos.
* Whiteside SA, Razvi H, Dave S, Reid G, Burton JP. The microbiome of the urinary tract--a role beyond infection. Nat Rev Urol. 2015 Feb;12(2):81-90.
Desconfortos urinários? Necessidades… a pista da disbiose
À imagem do que se passa nos intestinos e na vagina, quando as populações bacterianas normalmente presentes são substituidas por outras, criam vários desconfortos originando a « disbiose » hoje em dia reconhecida (intestino irritado, candidose, micose…); na bexiga pode existir a « toma do poder » pelas bactérias naturalmente minoritárias.
É o que acontece com a bactéria « Escherichia coli », fonte de desconfortos urinários nomeadamente nas mulheres
Estudos indicam que algumas espécies bacterianas estariam frequentemente presentes nas mulheres que apresentam uma incontinência urinária e no caso de uma emergência miccional (ou necessidade em esvaziar a bexiga), nota-se uma presença importante de alguns grupos bacterianos. Por isso, abre-se uma nova era de pesquisas, tomando em conta a microbiota urinária e os seus desequilíbrios. Pistas para seguir…
Um equilíbrio para preservar
Esta microbiota urinária, hoje em dia identificada, não pode ser ignorada; participa no equilíbrio do trato urinário.
Recordar que há interdependência destas microbiotas: intestinal, vaginal para a mulher e a vesical. Existe um forte grau de homologia entre as bactérias das microbiotas intestinal e vaginal. Uma recente publicação demonstra que mesmo uma bactéria vaginal Gardnerella vaginalis, favorecida pelas relações sexuais pode « invadir » o trato urinário e « acordar » a Escherichia coli a nível da bexiga*! O equilíbrio de um meio tem consequências no equilíbrio de outro, como demonstrado nas microbiotas vaginal e intestinal.
Mesmo que ainda haja muito para descobrir sobre estas bactérias vesicais, cabe a cada um de nós preservar estas populações, nomeadamente pelo aporte regular de lactobacilos e bifidobactérias; bactérias dominantes num indivíduo « saúdavel ».