O intestino em osmose com a microbiota intestinal

O intestino em osmose com a microbiota intestinal

O intestino foi durante muito tempo ignorado pela comunidade científica. No entanto, é impossível ignorá-lo quando se fala da microbiota intestinal! Os segredos para uma boa digestão é uma microbiota equilibrada, um mucosa intestinal impermeável e um sistema imunitário intestinal eficaz.

Uma associação de órgãos

Na digestão intervêm vários microbiomas, cada um com a sua função mas interdependentes:

  • A boca: mastigação dos alimentos e pré-digestão pela mucina e as enzimas salivares (amilase e lipase).
  • estômago: homogeneiza os alimentos mastigados pelos tecidos musculares deste órgão contrátil.
  • intestino delgado: fragmenta as moléculas alimentares em nutrientes (açúcares, aminoácidos, vitaminas, ácidos gordos, minerais).
  • A mucosa do intestino delgado: absorve os nutrientes (passagem no circuito sanguíneo) e função barreira.
  • Intestino grosso: degradação dos resíduos alimentares que não foram aproveitados durante a digestão, principalmente fibras vegetais; transformação desses elementos em substâncias úteis (vitaminas, ácidos gordos ou glucose); reabsorção de água.

Dentro dos órgãos de células especializadas

  • No intestino delgado: assimilação e proteção A mucosa do intestino delgado com uma  superfície total de 400 m2 é coberta por células chamadas enterócitos. Caracterizam-se por vilosidades, comparáveis a franjas, elas próprias cobertas por microvilosidades. A sua renovação é rápida, estas células vivem entre 2 a 6 dias. O conjunto forma uma « borda em escova » capaz de absorver os nutrientes num curto espaço de tempo. Quanto melhor o estado da mucosa, melhor é a absorção dos elementos nutritivos.

    Uma junção estanque, formada por proteínas, une os enterócitos. Esta junção impede  as moléculas prejudiciais de atingir o circuito sanguíneo. Podem ser patogénios (bactérias e vírus), alergénios, tóxicos. Uma falha da barreira entérica  protegida pelo sistema imunológico intestinal (GALT) e pela microbiota, tem um claro impacto na saúde geral.
    Os enterócitos e as células imunitárias prosperam graças a um aminoácido: a glutamina. Nalguns casos, as necessidades das células podem aumentar: nas situação de stress, na inflamação, nas infeções, na má alimentação, etc.
  • No intestino grosso: reabsorção de água e produção de nutrientes As células do cólon (colonócitos) dispõem também elas, de uma estrutura em escova, especializada na reabsorção de água e de eletrólitos.

    A flora bacteriana (microbiota) do cólon concentra o maior número de micro-organismos. Algumas bactérias (lactobacilos e bifidobactérias) são dedicadas à fermentação dos glúcidos complexos e das fibras residuais e outras à putrefação das proteínas. Um desequilíbrio entre estas duas floras origina inchaço e irritação. A flora de fermentação limita a  propagação de bactérias , especificas à flora de putrefação.

O sistema nervoso entérico: 2º cérebro?

São 200 milhões de neurónios, de células gliais e de neuromediadores idênticos aos presentes no cérebro, uma multitude de conexões: o sistema nervoso entérico pode ser considerado o 2º cérebro.
Os neurónios entéricos circulam no intestino para garantir a sua motricidade. 80% deles são chamados aferentes, porque conduzem a informação do intestino até ao cérebro através do nervo vago. A microbiota também é um ator preponderante na fluidez e na qualidade das trocas entre intestino e cérebro.

Este sistema nervoso pode ser afetado por várias fontes de perturbações:

  • Provenientes do cérebro: emoções e stress crónico que libertam hormonas e neuromediadores específicos. Alteram sensivelmente a composição da microbiota,  ao mesmo tempo que diminui a  sensibilidade dos neurónios digestivos.
  • Provenientes da microbiota: uma alteração na composição é suscetível de alterar, interromper ou desviar a transmissão de mensageiros.
  • Provenientes do sistema imunitário: induz em erro por um desequilíbrio da microbiota ou pela entrada de moléculas indesejáveis no circuito sanguíneo, o sistema imunitário pode responder de forma excessiva e transmitir aos neurónios intestinais uma informação falsa. Como uma fake news que faz sensação! A inflamação aguda que geralmente é momentânea torna-se crónica, com o aparecimento de reações de intolerância e de alergia, as dores aparecem ou uma fadiga sem origem determinada.


Régis Grosdidier, doutor em medicina.